Retomando o blog hoje, 15

Hoje, quando as redes sociais alardeavam saudações calorosas em homenagens ao dia do professor, sou tomada por algumas memórias.

Ao longo deste percurso atuando como docente, já escutei de tudo: sou professor, não educador, educar cabe aos pais; sou professor, não psicólogo nem melhor amigo; minha obrigação é com o conteúdo e ponto; minha aula não flui porque o material didático não ajuda... E por aí vai. Não que hoje tenha sido tomada pelo pessimismo, longe disto. Mas pelo fato de acreditar tanto nesta missão é que me surpreende ouvir tais afirmativas.

Sou professora de língua espanhola há 20 anos e não acredito que ser professora de uma língua estrangeira me exclua do papel de ser educadora. Quando compreendo a diferença nas formas de aprendizagem dos meus alunos; quando lhe mostro a diversidade cultural e linguística entre os países de “habla” hispânica, quando respeito e valorizo o conhecimento de mundo de meus alunos, não estaria eu sendo uma educadora? Se educar consiste em partilhar um conhecimento e fazer com que ele se torne prática, não há dúvida que cabe ao professor a missão de educar.

Quando sou capaz de sorrir, acolher meus alunos e conhecer quando um deles não está bem e respeito o seu silêncio, não estou sendo psicóloga e amiga? E desde quando a afetividade é prejudicial ao processo de ensino-aprendizagem? Pelo contrário, o desafeto reprime, oprime e inibe. O próprio Vygotsky afirma que a relação professor/aluno não deve ser uma relação de imposição, mas de cooperação, respeito e crescimento; Paulo Freire ainda enfatiza: me movo como educador porque primeiro me movo como gente. Como professor/gente, me vejo como educadora, porque como gente preciso sair da minha arrogância e me aproximar do meu aluno para que ele desenvolva o desejo de querer saber. E para ser bem franca, admiro imensamente este seu pensamento: Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso.

Será que enquanto ser pensante que somos, meu papel como professor deve se limitar unicamente ao conteúdo? E as outras questões que permeiam o processo ensino-aprendizagem? Nosso compromisso vai além, pensar, antes de tudo, como passar aquele conteúdo de forma que o aprendiz observe, reflita e construa o conhecimento a fim de que ele efetivamente entenda e saiba do seu papel para a relação dialógica com o outro e com o meio. Não é o conteúdo em si, mas mostrar o poder que este conteúdo dará ao aluno, retirando-o do estágio da ignorância para o domínio do saber efetivo e concreto.   
   
E o que dizer quando o professor se vê refém do manual didático? Onde fica a sua autonomia e criticidade? O livro didático nunca deve ser uma prisão, apenas um norte para organizar melhor os assuntos a serem tratados naquele nível. Não é o manual quem deve pôr as rédeas no professor! O professor deve tomar posse da autonomia para selecionar, adaptar, modificar ou excluir aquilo que lhe convier no livro didático. E isso ocorre justamente porque o professor conhece as reais necessidades dos seus educandos.

Pensando em tudo isso, hoje reflito: que tipo de marcas quero deixar em meus alunos: as que doem e desanimam ou as que mostram portas, horizontes e caminhos?

Comentários

  1. Como sempre arrasando com suas reflexões, faço parte desses dois mundo aluna e professora, e não tem coisa mais gratificante, saber que o professor se importa com esse ser que estamos ou está sendo educado, uma vez aprendi e nunca mais esquecerei que " O mais importante és saber que estamos ensinando pessoas e não lições", isso respondendo a sua critica na qual o docente se prende ao manual e que quando não consegue passar tudo que estava planejado para essa aula se frustra e decide pensar que sua aula foi um fracasso , quando realmente o que importa é esse ser chamado de aluno, conhecer sua classe e ensinar aquilo que estes possam absorver naquele momento. Só com esse tipo de educador agora na posição de aluna, é que eu consigo me desenvolver e aproveitar o conhecimento ao que estou sendo exposta. `parabéns professora por ser parte desse tipo de educadores que são tão necessários para a nossa atualidade, onde vivemos um mundo com tantos valores inversos. abraços

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  2. Cecília,
    Fiquei muito contente com seu Feedback ao meu texto.
    E o que me chamou a atenção no seu comentário é o fato de que a gente pensa melhor enquanto educador, qdo tb vivemos a experiência enquanto alunos. Quando nos colocamos ou nos posicionamos no lugar do outro,nossa prática ganha mais humanidade.
    Beijos!

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